Horácio Paiva - Cadeira - 1 - Academia Macauense de Letras e Artes

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Horácio de Paiva Oliveira

Membro da Cadeira No 1  - Patrono Edinor Avelino.

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Dados Biográficos do Acadêmico
Horácio de Paiva Oliveira nasceu em Macau, Rio Grande do Norte, Brasil, em 30 de agosto de 1945, sendo o último dos cinco filhos de Horácio de Oliveira Neto e Francisca Paiva de Oliveira. Após frequentar o Jardim da Infância do Grupo Escolar Duque de Caxias, foi para Natal, onde fez o primário no antigo Ginásio Sete de Setembro, exceto o quinto e último ano que, novamente em Macau, cursou no Ginásio Nossa Senhora da Conceição. Retornando a Natal, cursou o Ginasial no Colégio Santo Antônio (Marista) e parte do segundo grau no Colégio Estadual do Ateneu Norte-rio-grandense (Curso Clássico), concluindo-o em Macau, no Ginásio Nossa Senhora da Conceição, no Curso Técnico Comercial de Contabilidade, ali existente. Desde cedo manifestou-se o seu gosto pela literatura, sobretudo pela poesia. Publicou o seu primeiro poema aos 16 anos de idade, no jornal macauense O Nacionalista. Aos 18, com outros jovens escritores (Anchieta Fernandes, Dailor Varela, João Charlier Fernandes, Fernando Gurgel Pimenta, Falves, Franklin Capistrano, Walter Varela (Walter Berbe), Francisco Antônio Cordeiro Campos, Marcos Aurélio de Sá, José Arnaldo, Ivan Sérgio Freire, Iaperi Araújo), criou em Natal o Movimento dos Novíssimos, que mantinha uma coluna literária no antigo jornal católico “A Ordem” (“Coluna dos Novíssimos”). Foi funcionário do Banco do Brasil em Macau, Recife e Natal, onde serviu como escriturário, professor de direito civil e comercial (dando aulas em Brasília e Recife) e, depois, advogado. Iniciou seu curso de Direito em Recife, concluindo-o em Natal. Advogado, participou ativamente das lutas pelo restabelecimento, no Brasil, do Estado Democrático de Direito. Foi fundador e presidente da Comissão Pontifícia Justiça e Paz  -  entidade pioneira na defesa dos direitos humanos no Rio Grande do Norte, vinculada à Arquidiocese de Natal -, membro do Comitê da Anistia no RN, coordenador do Comitê Pró-Diretas de Natal, fundador e presidente da Coordenação Intersindical do Estado do RN, ou Unidade Sindical, como inicialmente foi chamada a primeira Central de trabalhadores urbanos e rurais do RN, após 1964, membro da Comissão Nacional Pró-CUT (representando o RN), presidente do Sindicato dos Bancários do RN, por três mandatos, no período de 1980 a 1989, e diretor da Federação dos Bancários de Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Prêmio de Direitos Humanos “Emanoel Bezerra”. Detentor do troféu “Moinho de Sal”, pela Prefeitura Municipal de Macau, e de Comenda, pela Câmara Municipal de Macau, em 1998. Cidadão Natalense, através de lei municipal. Presidente da Comissão Municipal da Memória, Verdade e Justiça de Natal, Rio Grande do Norte. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da União Brasileira de Escritores do RN. Presidente e um dos fundadores da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA. A vida intensa dedicada ao movimento social retardou o lançamento de seu primeiro livro de poesias, “Navio entre espadas”, que somente veio a lume no ano de 2002. Em agosto de 2012, lançou seu segundo livro solo de poemas, “A Torre Azul”, e, em maio de 2017, o terceiro, “Caderno do Imaginário”. Tem ainda em preparo, também de poesias, os livros “Sou de Deus  -  33 poemas de inspiração religiosa” e “Navio Azul Imaginário  -  Poemas selecionados”. Está incluído na antologia “Geração Alternativa (Antilogia Poética Potiguar)”, organizada pelo escritor J. Medeiros e editada em 1997. Participou, depois, de três coletâneas de versos: “A Escola de Macau”, publicada em 2003, “Coletânea de Poemas”, organizada pela União Brasileira de Escritores - UBE-RN, em 2015, e, outra, bilíngue (português-espanhol), lançada em Natal e Havana, “Literatura Brasilis”, em 2018. Publicou também em jornais e revistas do Rio Grande do Norte, de outros Estados brasileiros e do exterior.
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Capas dos livros do acadêmico  
“Navio entre espadas”, 2002.
“A Torre Azul”, 2012
“Caderno do Imaginário”, 2017
“A Escola de Macau”, 2003
“Coletânea de Poemas”,  2015
“Literatura Brasilis”, em 2018.
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Textos/discursos do Acadêmico
AMLA  -  DISCURSO NA POSSE DOS ACADÊMICOS

Digníssimos membros componentes da mesa,
Caros confrades,
Senhoras e senhores!

Aqui realizamos um sonho, ou despertamos para realizar um sonho! Aqui e agora! Não um sonho qualquer, um sonho particular  -  desses que sempre nos surgem ao longo dos dias, sob a luz do sol ou das estrelas  -, mas um sonho de muitos sonhos, de legítimos e adotivos filhos desta terra, um sonho de muitas vozes, de ontem e de hoje, um sonho sonhado por uma cidade entre o céu e o mar, conhecida, para usar a expressão carinhosa de meu amigo e poeta Diógenes da Cunha Lima, como “luzeiro de talentos multiformes nas artes e nas letras”.

Mas como se realiza um sonho, como se depura a vigília de suas impossibilidades, como nela agregamos a argamassa concreta da vida trazida do que nos parecia insondável, para, enfim, nos depararmos com o rosto do novo ser?

Para Deus, foi fácil: bastou que sonhasse e pronunciasse  “Fiat!”, “Faça-se!”, e tudo se fez. Entretanto, para nós, mortais  -  ou imortais, como queiram  -, todo ato de criação, mesmo o mais simples e bizarro, se desenvolve no suor e na complexidade, em acertos, desacertos e correções, e, ademais, se coletivo, na paciente tessitura dos múltiplos sonhos que aderem ao grande sonho comum.

Desta forma, aceitando o desafio ético e estético da missão, na perspectiva de acrescentar benefícios ao nosso Município e à região em que ele se insere, nos propusemos a construir a ACADEMIA MACAUENSE DE LETRAS E ARTES - AMLA, cujo artigo terceiro de seu estatuto assim define sua finalidade:

Art. 3°. A AMLA tem por finalidade desenvolver, promover e estimular a criação artística e científica em suas diversas modalidades de expressão, através da literatura, da música, das artes visuais e cênicas, da história e demais ciências, enfim das manifestações da cultura preferencialmente emanadas de autores, pesquisadores e artistas do Município de Macau-RN, promovendo a interação com entidades congêneres do Rio Grande do Norte, do Brasil e de outros países, bem assim preservar as tradições culturais de Macau e conservar seu patrimônio histórico, literário e artístico.


Neste ponto, porém, contamos com a inspiração e o amor a Macau, sempre presente em nossos corações e em nosso imaginário, e na reciprocidade deste amor, porquanto não esquecemos Macau nem Macau nos esquece.

Macau não esquece. Macau lembra seus filhos desta e das gerações anteriores. Lembra o seu mar, sua origem épica ao sair do ventre oceânico que também gerou sua mãe adotiva, a Ilha de Manoel Gonçalves. Lembra o céu de azul profundo, que lhe pertence e lhe protege. Lembra o vento Leste a tanger velas, nuvens, girassóis e cataventos, e o Nordeste, refrigério do mar que além de conforto lhe imprime esse ar de perenidade com que a vemos atravessar a noite dos tempos. Lembra o delta do Assu e o seu braço mais familiar, o Rio Salgado, onde às suas margens convivem sons e sombras de suas variadas épocas...  o que me fez compor esses versos, dedicando-os ao meu grande amigo e poeta Gilberto Avelino e ao meu irmão Graziani, em seu eterno recordar:

MOMENTO NO RIO

aqui não ouço mais os calafates
e os sons que encantavam
a terra prometida

não os escuto mais
não mais

as barcaças
à aragem sumiram do vento leste

restaram os velhos acordes da infância
o sonho que retorna
o momento imperecível da memória

e as águas.

Sim, Macau também lembra constantemente a sua história, cujo principal protagonista e herói foi o seu povo, seus trabalhadores do mar, do sol e do sal. Nesse poema, cito apenas uma de suas categorias de trabalhadores, pelos sons ouvidos na infância: os desaparecidos calafates. Macau, porém, lembra todos e  -  vejam com atenção!  -   ainda os tem. Abram os olhos além desta sala, além deste tempo que nos prende e dizemos nosso, e verão ainda presentes, na alma da cidade, os estivadores, os barcaceiros, os alvarengueiros, os marítimos, os salineiros e todos aqueles que a construíram.

Com tanta força potencial, telúrica, histórica, humana, o destino de Macau se impõe. E o sonho que realizamos hoje aqui é apenas um exemplo, um pequeno exemplo do que guarda o tesouro macauense. Nada damos a Macau que ela não tenha. Exceto o sonho à luz do dia, movendo-o de sua realidade onírica à realidade da vigília.

Assim, não creio que tenhamos chegado tarde. Apenas levo os meus aplausos às irmãs Mossoró, Ceará-Mirim, Assu e São Paulo do Potengi, que, em nosso Estado, se nos anteciparam com suas Academias municipais.

Macau também não envelhece e o seu tempo se conta na Verdade, que inclui memória e renovação. Chegamos no Advento, e na lua nova, que amanhã inicia novo ciclo. E com a cidade em festa, celebrando sua fiel e secular padroeira, madrinha, mãe e rainha, Nossa Senhora da Conceição!

Chegamos, portanto, no tempo certo!

E para quem anota coincidências, no começo de tudo, em 10 de agosto passado, quando se deu o embarque destes corajosos argonautas do bem e da arte, amantes de Macau, em sua primeira reunião rumo ao dia de hoje, ocorria a célebre e tradicional festa de Nossa Senhora dos Navegantes! E certamente Nossa Senhora, a eleita de Deus, que é única, nos abençoa evocada nesses seus dois títulos, da maior estima e devoção dos filhos e filhas de Macau!

Portanto, o caminho está aberto e a pedra angular lançada. Destaco o pioneirismo, o impulso visionário e o esforço inaugural destes primeiros acadêmicos, as dificuldades vencidas, a união consolidada, o apoio da comunidade e a excelente recepção demonstrada nos contatos que tivemos com alunos e professores de escolas macauenses e com diversas personalidades de nosso Estado.

O caminho do conhecimento é árduo. Estamos nele, todos nós, pois é próprio da natureza humana a ansiedade de querer conhecer, desvendar mistérios ou até mesmo criá-los.

No meu poema “Claro/escuro”, digo:

“Desvendamos ou criamos ´mistérios?
Quem a vida perdoa é mais feliz?
Cada dia, a iluminação.
Cada noite, o esquecimento.”

Destaco a lúcida compreensão que os fundadores tiveram da importância, para Macau, desta Academia, como polo agregador e divulgador do conhecimento, capaz de desenvolver, promover e estimular a cultura, a criação artística e científica, em suas diversas modalidades de expressão.

Embora ausente, também merece nosso aplauso um desses ilustres fundadores, Cláudio Antônio Guerra, grande humanista e talentoso intelectual, com larga folha de serviços prestados a nossa querida Cidade, e a quem recentemente visitamos, eu e nosso amigo e  Vice-Presidente, Alfredo Neves. Doente, portanto impossibilitado de comparecer a esta solenidade de posse, mas à qual se faz representar, foi sempre um entusiasmado defensor da criação desta casa de cultura.

Ressalto e homenageio aqueles macauenses de nascimento ou adoção que no passado se destacaram nas letras e nas artes e hoje constituem fonte de inspiração para a nossa Academia, alguns deles nela figurando como patronos.

E ainda nesta pagina final, mais uma palavra ao coração, para reverenciar alguém muito especial na história da educação de nosso Município e que se tornou, pela sua profunda contribuição como educadora, uma legenda entre nós, a Professora Anaíde Dantas, que não apenas nos ensinou História Geral e do Brasil, mas a história e o exemplo da consagração ao ensino!

O anseio pelo conhecimento é próprio da natureza humana. E dele jamais poderemos desistir, mesmo sabendo-o incomensurável, porque imprescindível ao aperfeiçoamento da vida social e ao próprio viver individual. Trazendo-o para o nosso meio, disseminando-o, cumprimos uma relevante função social.

Ademais, é inegável a importância da arte para a humanidade. A arte cumpre uma função ontológica importante ao justificar, estética e filosoficamente, a existência humana. Nesse sentido, costumo repetir o que disse certa vez Schopenhauer: “A arte justifica o sofrimento da vida.”

Tem-se, ainda, que a alma humana é maior que seus desafios. E seu otimismo é criador, o que me faz lembrar Fernando Pessoa, na admirável síntese desses versos geniais (e tão conhecidos) de seu poema “Mar Português”:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”
Dessa forma, creio ser consenso que a entidade ora criada deva abster-se do isolamento, e, ao contrário, seguir o caminho da luz, interagindo com a comunidade e mantendo constante diálogo com as demais entidades do Município, sobretudo com aquelas voltadas à educação e à cultura.

Aliás, LUZ se propõe a ser a jovem ACADEMIA MACAUENSE DE LETRAS E ARTES, quando escolhe a luz para sua divisa e a insere em seu lema, na expressão poética da palavra LUME, claridade, e a contextualiza na beleza inexcedível da ilha mãe, entre mar e céu: LUMEN INTER MARE ET CAELUM (LUME ENTRE MAR E CÉU).

Enfim, saúdo o acolhimento amoroso que nos dá Macau, como um berço, como nesses versos que lhe dedico e que, partindo de sua gênese, a Ilha de Manoel Gonçalves, vão afinal captar a sua essência, a sua generosidade maternal:

ILHA DE MANOEL GONÇALVES

Se perguntarem por você
direi que você não mais existe
a Gamboa das Barcas virou mar

Mas em Macau há um retrato seu
uma cruz e uma espada
um veleiro e um santuário

E sempre haverá um berço
para acolher e embalar sonhos
de filhos pródigos, viajantes
e náufragos do tempo.

Acolhei, pois, Macau,  este nosso sonho, que é vosso!
-  Horácio Paiva, presidente da AMLA  -

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